quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Economia da vida



2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Mais uma importante iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para aumentar "a consciência sobre a importância da preservação da diversidade das espécies vivas em todo o mundo" e possibilitar uma aliança global em sua defesa.
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento sediada no Rio de Janeiro, a Rio 92, foi aprovada a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Assinada por 191 países - incluindo o Brasil, que a ratificou em 1994 -, ela foi instituída com o propósito de ser o principal acordo internacional para a definição de políticas e estímulo à implementação de ações com vistas a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.
Desde então, promessas vem sendo feitas nesse sentido, mas com poucos resultados práticos. Em 2002, por exemplo, na Cúpula de Johanesburgo, líderes mundiais concordaram em estabelecer a meta de uma significativa redução dos índices de extinção de espécies de animais e vegetais até 2010. Mais um dos objetivos incluídos nas Metas do Milênio que não serão alcançados.
No lançamento da campanha, no dia 8 de janeiro, na Alemanha, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou para o "declínio sem precedentes na diversidade biológica. As espécies estão sendo extintas mil vezes mais rapidamente do que a taxa natural", ressaltou.
Segundo a ONU, uma em cada cinco espécies de animais do planeta está ameaçada de extinção. A organização World Wildlife Fund (WWF) divulgou, no início do mês, uma lista (acesse no endereco www.wwf.org.br) com os principais animais ameaçados de extinção no mundo. Muitas pessoas não conseguem perceber a riqueza e a imensidão da nossa biodiversidade. Para piorar, a vêem como um bem sem custo, sem valor, sem relação direta com tudo o que fazemos e necessitamos e, ainda por cima, auto-regenerativa. Nada mais enganoso.
Consequentemente, não se dão conta de que "esta diversidade biológica determina, entre outras coisas, a presença de oxigênio no ar, o que nos permite respirar; a existência de um solo orgânico que possibilita a agricultura e assegura a ciclagem da água e de nutrientes, sem os quais não haveria vida neste planeta", como escreveu Otto T. Solbrig, professor de biologia da Universidade de Harvard em seu excelente artigo Biodiversidade e Economia.
Devido a sua grande extensão e significativas variações geográficas, geomorfológicas e climáticas, o Brasil apresenta uma grande diversidade de ambientes naturais. Podem ser encontrados no território brasileiro o ambiente equatorial da região amazônica, com chuvas torrenciais e bem distribuídas ao longo do ano, o semi-árido no Nordeste, com eventos de déficit hídrico, e o temperado do Planalto Meridional, onde chegam a ocorrer nevascas nos pontos mais altos de sua porção sul.
Esta variação ambiental levou à constituição de um complexo conjunto de ecossistemas e uma significativa diversificação da fauna e flora que fazem com que o país possua a maior riqueza biológica do mundo, abrigando entre 10 a 20% das aproximadamente 1,5 milhão de espécies já catalogadas. São cerca de 55 mil espécies de plantas com sementes (22% do total mundial), 502 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 600 de anfíbios e 2.657 de peixes. Respectivamente 10.8%, 17.2%, 15.0%, 10.7%, das espécies existentes no planeta.
Por outro lado, a situação brasileira, em relação à conservação de biodiversidade, é considerada uma das mais graves no mundo. A Amazônia já perdeu 18% de sua cobertura florestal, a Mata Atlântica está reduzida a menos de 10% de sua extensão original e o Cerrado e a Caatinga encontram-se hoje com possivelmente 2/3 de suas áreas antropizadas. São essas as regiões onde se concentram grande parte da diversidade biológica do país, assim como a maior fração das espécies endêmicas ao nosso território.
Como decorrência, o número de espécies ameaçadas de extinção no Brasil vem aumentando nas últimas décadas. Tomando como exemplo apenas o grupo dos mamíferos, em 1973 eram 29 espécies ameaçadas de extinção, passando para 58 espécies em 1994 e, 69 em 2005. Isso representa um aumento de 238% em cerca de 30 anos. Em outras palavras, o número de mamíferos ameaçados de extinção no Brasil quase que se duplicou a cada 10 anos.
O Brasil tem, portanto, um papel importante a desempenhar. É urgente que a biodiversidade comece a ser incluída no planejamento econômico, nos projetos, nos cálculos e nas metas para que escolhas mais racionais e sustentáveis sejam feitas para o nosso desenvolvimento. Não só pelo valor que agregam, mas pelas perdas que não são sequer contabilizadas.
Enfrentar este imenso desafio significa mudar as estratégias e as ferramentas utilizadas abandonando uma abordagem tradicional, onde apenas o setor ambiental atuava no enfrentamento destas questões, por um novo modelo em construção onde se promove a participação e a responsabilidade de todos os setores e grupos de interesse.
Como peça-chave na batalha mundial pela conservação da biodiversidade, pelo uso sustentável de seus componentes e pela repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de seu uso, em grande parte esta batalha será ganha ou perdida aqui, em terras e águas brasileiras.

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