terça-feira, 18 de agosto de 2009

Unidos pela sustentabilidade
Brasil, Argentina e EUA podem reduzir os impactos da produção de biocombustíveis se pesquisarem de forma integrada, dizem cientistas em workshop

Fonte: Pesquisa FAPESP - Edição Online - 13/08/2009 [Conteúdo enviado por Etney Neves]

Existe um amplo espaço no qual pesquisadores do Brasil, da Argentina e dos Estados Unidos podem somar esforços para compreender e reduzir impactos das tecnologias de produção de biocombustíveis sobre o uso da água e da terra. Mas, para viabilizar as colaborações, será preciso superar obstáculos como a falta de um padrão de dados que lastreie estudos comparativos, construir modelos capazes de explicar os efeitos de fenômenos complexos ou encontrar formas de analisar cientificamente correlações como as que sugerem a influência do aumento da área plantada com milho nos Estados Unidos no desmatamento da Amazônia brasileira. Essa conclusão emergiu nas discussões finais de um workshop, encerrado 13/08, que mobilizou cientistas de três países com grande interesse em biocombustíveis – enquanto Brasil e Estados Unidos são os principais produtores de bioetanol, um derivado da cana-de-açúcar e o outro do milho, a Argentina tem um enorme potencial para a produção tanto de etanol quanto de biodiesel.
“Juntos, esses países do continente americano querem definir estratégias que permitam usar ciência de alta qualidade a fim de que os recursos naturais sejam utilizados de forma sustentável”, diz Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, coordenador do workshop. Realizado no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o evento foi organizado e patrocinado por agências financiadoras como a FAPESP, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a norte-americana National Science Foundation, além de instituições como a Universidade de São Paulo, a Universidade de Buenos Aires e a Universidade do Estado de Iowa. “O uso da água e da terra associado à produção de biocombustíveis tem consequências sociais, econômicas e ambientais importantes, além de questões tecnológicas complexas. Novos modelos, com equipes muitidisciplinares e multinacionais, são necessários para investigar esse tema”, disse Robert Anex, professor da Universidade de Iowa.
Em relação ao impacto sobre o uso da água, os pesquisadores concluíram que é necessário promover o controle de herbicidas, o monitoramento do uso dos recursos hídricos, as práticas de reuso da água nas indústrias, a adoção de políticas públicas que combatam o desperdício e a aprovação de leis que protejam e restaurem matas ciliares em áreas plantadas. “No caso da produção de etanol de cana em São Paulo, parte da água utilizada provém de pequenos rios. É preciso ficar de olhos bem abertos, pois a ampliação da área plantada pode mexer com toda a rede hídrica do Estado”, diz Marcos Buckeridge.
Os impactos negativos da produção do etanol de cana também foram debatidos no workshop. Luiz Martinelli, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), campus de Piracicaba, mostrou que a legislação ambiental nem sempre é cumprida nas plantações de cana do interior paulista, com uma ainda frequente contaminação de rios e desrespeito à preservação de seus leitos. Michael Coe, pesquisador do Woods Hole Research Center, apresentou um estudo sugerindo uma correlação entre a decisão dos agricultores norte-americanos de trocarem a soja pelo milho, graças a estímulos do governo para produção de etanol, com o avanço da área de soja plantada no estado brasileiro de Mato Grosso, em resposta ao aumento das cotações do grão. Maria Uriarte, da Universidade de Columbia, apresentou dados que correlacionam as queimadas no interior paulista com a incidência de doenças respiratórias e mortes entre idosos e crianças no interior paulista.
Para Marcos Buckeridge, é necessário avançar na investigação dos impactos dos biocombustíveis na saúde. “Mas não só os impactos negativos, como também os eventuais impactos positivos. Seria interessante, por exemplo, comparar os efeitos da poluição em municípios como São Paulo, onde boa parte dos veículos utiliza etanol, e na Cidade do México, que também sofre com a poluição, mas tem uma frota que roda a gasolina”, afirmou o pesquisador.

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