quinta-feira, 2 de julho de 2009

A mulher e a política



A política é uma profissão de homens, concebida e organizada no masculino. Esta característica é o grande limitador da entrada expressiva das mulheres nesse campo do exercício do poder. Hostil, a política coloca inúmeras resistências às mulheres. Em estudo sobre a participação das mulheres na vida pública Michelle Perrot (1998) considera que “a entrada das mulheres na política não é normal em nenhum lugar, quer se trate dos partidos, do legislativo ou do executivo. A organização política é masculina em seus ritos em seus ritmos, em seus horários, em suas formas de sociabilidade, em sua apresentação de si, que molda também a expectativa do público, eventualmente decepcionado por ser representado por uma mulher, porque tem a sensação de ser desvalorizado ou menos bem representado”.

Podemos dizer que sobre o público registramos, hoje, uma considerável evolução da mentalidade e podemos percebê-la pela eleição de mulheres para cargos importantes como a Presidência da República. Não obstante, ainda sobreviverem preferências pelos atributos masculinos. No entanto, do ponto de vista da organização da política em si encontramos uma verdadeira resistência à mudança. Esbarramos em representações do masculino e feminino cotidianamente realimentadas. Tais representações atribuem ao homem o lugar do público e à mulher o privado. Isso faz com que a mulher entre em campo sem posição no time. Afinal em que posição jogar nesse campo masculino A mulher precisa, literalmente, cavar espaço, pois é muito difícil ser incorporada no jogo. Ninguém passa a bola.

Se eventualmente faz gol não é por responsabilidade própria e sim porque algum homem fez um passe extraordinário. Esse é um dos fatores que levam, não raro, muitas mulheres a se limitarem a cuidar, na política, de assuntos considerados “femininos”: a assistência, a ajuda. Se sua atuação se limita a tais questões, ela incomoda menos, é assimilada. A gente percebe um quase que “deixa ela”.
Tal situação exige das mulheres um “a mais” para serem respeitadas. Não é por acaso que as estatísticas apontam que as mulheres estudam mais, se capacitam mais, porque já entram em desvantagem nesse jogo. A mulher não pode correr o risco de ser desqualificada, ela tem que justificar a sua presença no time. O que não é exigido dos homens. A mulher na política é vista inteira. Sua vida privada é devastada, seu comportamento é trazido à luz como um elemento de sua identidade política. Já aos homens vale toda permissividade com relação à vida privada, isto não afeta seu currículo político, ao contrário, por vezes fortalece.

Não foram poucos os avanços conquistados pelas mulheres ao longo da história da humanidade, na medida em que trouxeram à público temas antes desconsiderados fato que se configurou numa grande contribuição. Mudar comportamentos, hábitos, costumes é outra questão a ser lembrada. No entanto estes avanços pressupunham a possibilidade da passagem do homem para a vida privada e da mulher para o mundo público – da política. Este tem sido um movimento que sofre muita resistência. Afinal desvalorizou-se tanto os papéis privados e as tarefas domésticas, que, para um homem, é tradicionalmente humilhante sujeitar-se a elas. Há pouco tempo, era tão deslocado para um homem passar roupa quanto para uma mulher fazer manifestações. E a entrada da mulher na política sofre tantas resistências, que exige muitos sacrifícios e coragem. Enfrentar tal situação denota que, possivelmente, para as mulheres fazer política tem que ter um outro sentido que não seja só a disputa intra-política ou pelo poder, porque esta é, muitas vezes inaceitável. Então, o fazer política feminino pode estar assentado, mais fortemente, em idéias de conquista de um mundo melhor para si e para os outros. Também essa mudança de perspectiva da mulher e do homem na política esta assentada em velhas representações.

Não devemos esquecer das representações sociais muitas vezes imperativas: ter sucesso na vida para um homem é fazer carreira; para uma mulher é ser feliz. E a felicidade na perspectiva feminina nunca foi concebida de maneira individualista, mas traz constitutivamente, talvez pela experiência da maternidade, a idéia de conjunto, sendo importante a família, a comunidade e, com eles, a idéia de um mundo melhor.

Edna Martins - professora da Faculdade Savonitti, Presidente do Cedro Mulher e membro do PV de Araraquara.

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